campo aberto

sinto vasta a pobreza de mim.

tivesse palavras e teceria retratos

ou não vacilassem no longe os fios

dos quais pendo, sem traço ou margem,

inanimado.

 

contudo, vejo, e um só é o caminho.

 

inútil é vagar nos campos ou buscar

no calor de sóis ou no lume de velas

o ardor que fui eu.

águas dão-me às comportas do agora.

 

singraria ainda a amplidão das cores frias

ou far-me-ia matéria de pintura

dando-me a poucos cêntimos

numa praça de outras memórias.

 

tudo quanto me desabita é um abrir de ossos.

 

cavo-me nos chãos para esculpir-me em espelhos de pedra,

chego a desver-me

por postigos que não alcanço

e então é o salto

;

nem as vestes que me vêm no ventre de corvos

chegam-me a cobrir a nudez

ou a afastar das vistas

o que dói desvelar –

minha carne mesma é o andrajo.

 

se caio ou se aqui flutuo

em fortes ventos que me demoram,

não sei.

sobrestou-me.

M. MATIAS.

Em 24 de fevereiro de 2012.

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