Quanto às agitações dos polvos.

A João – dentre todos os joões deste mundo – , o que não lhe esqueço.

Dissera que dos polvos

Dançava-se roda a oito mãos

mascando algas e

olhando-nos de soslaio que é o que se faz quando não se tem lado e somente se supõe

entrevendo por vitrais aquarelados.

Dissera que dos seres e outros monstros aquáticos

que deus deixou como que gotejando de seus olhos

azuis de certo

o amontoado das carnes sem vestidos ou pudores

negras de certo

a dureza lasciva dos pólipos

nos mares desta terra ou na Compostela de Santiago

este também pescador, embora

mais de homens que de peixes

(daí não lhes ter anunciado os mundos vindouros,

a sega dos justos e a

missa do sétimo dia)

Dia suspeito, pois que deus dormiu e nem por isso

deixou de repartir as águas e mandar chuviscos de final de filme com

friozinho de chocolate quente

ou dar-nos os humores vítreos com que fitar pelas comportas

peixes em calda na transparência melanclórica de uma

(estação de tratamento de dejetos. )

Dissera que dos polvos

se precipitara nos escoadouros do mundo

se fizera tamanho festim

mas tudo que vi, meu amigo,

foi o afluxo muito pluvioso

— trovões ribombando —

do Teu Oculto desembocando em mim.

M. MATIAS.

Em 12 de novembro de 2011.

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